A casa de Rivandro França na zona norte do Recife é lugar simples, muito simples, mas tem caráter. O cardápio (que veicula preços pouco praticados hoje em dia, quase inacreditáveis para uma capital brasileira), é um mapeamento sentimental da cozinha regional pernambucana. Tem sururu, escondidinho, carne de sol, cuscuz de milho, galinha de cabidela, sarapatel, farofa de bolão, baião de dois, bode guisado... As referências da cozinha tradicional estão todas ali, mas tudo acomodado sob a perspectiva de Rivandro, o que se sente na concepção de certos pratos, na apresentação de outros.
A vontade era experimentar tudo. Difícil escolher. Confesso que até agora me arrependo de não ter voltado uma vez mais pra provar outros pratos. Mas não adianta lamentar. Como diria o poeta, o tempo só anda de ida...
Começamos com um par de escondidinhos. O de macaxeira com carne de sol era cremoso e delicado, mais gostoso que o de banana com carne de sol.
Seguimos com o “sururu de quenga pra baixo”.
Então, um saboroso sarapatel de porco. Para amparar o molho, um pão (como manda o figurino) e farofa de bolão, receita em que se mistura água quente à farinha, produzindo o resultado que justifica o nome. Mais pernambucano, impossível.
O “baião de nós” trazia arroz, feijão verde, carne de sol e calabresa, tudo puxado na manteiga de garrafa e coroado por um belo pirão de queijo coalho. Não sobrou um grão no prato.
Pra aumentar a satisfação daquele momento, a companhia de uma grande jarra de refresco de graviola e uma brisa mansa atravessando as largas janelas dos fundos da casa.
Por fim, duas sobremesas. A primeira, doce de macaxeira, mel de engenho, coco e cachaça, servido quente com sorvete de creme. O sorvete não era bom, mas o doce, uma delícia.
E, claro, não sairíamos sem pedir uma cartola, em versão batizada de “cartixeira”. Banana dourada, queijo coalho, queijo manteiga, doce de macaxeira, tudo misturado, flambado em cachaça e finalizado com mel de engenho. Não resulta um prato bonito, mas o que importa é que é muito gostoso. O mel de engenho era tão bom que comprei uma garrafinha pra trazer comigo.
Durante todo o almoço, fui acompanhada pelo sentimento de estar num lugar autêntico, comandado por um cozinheiro que põe verdade no que faz e não tem a pretensão de ser o que não é. Coisa cada vez mais rara nos dias de hoje.
Cozinhando Escondidinho – Rua Conselheiro Peretti 106 – Casa Amarela. Tel. (81) 8618-6781 / (81) 9669-3924