Decepção no Tomo I: falta de sorte?

Março 2011

O Tomo I, fruto do trabalho das respeitadas irmãs Ada e Ebe Concaro (com a morte recente de Ada, Ebe prossegue ao lado do sobrinho) é figurinha fácil em muitos rankings dos melhores de restaurantes de Buenos Aires, seja na imprensa local, seja na mídia internacional. Está na minha lista de lugares a visitar na cidade há bastante tempo. Mas, a cada nova passagem por solo portenho, de alguma forma, uma intuição me dizia que a casa talvez não fosse tudo isso que se diz, ainda que tenha sido um dia. E eu acabava deixando pra conhecê-la numa próxima vez. Passei mais de meia década adiando. Nessa última visita, resolvi parar de superestimar os estímulos do inconsciente e fiz minha reserva no Tomo I. Mas minha intuição não me deixaria ir sozinha. Acomodou-se na mesma mesa e ria de mim a cada prato do meu almoço. Quem mandou contrariar?

A celebração da casa nos veículos especializados cuida de inflar as expectativas. O porte e a classe do salão que o restaurante ocupa no Hotel Panamericano jogam um tantinho mais de lenha na fogueira. O prólogo do cardápio, ao evocar referências como a canção “My Favorite Things” (pérola da música americana, de autoria do genial compositor Richard Rodgers) e sua antológica gravação por um fenômeno chamado Sarah Vaughan torna a coisa ainda mais séria e faz com que se espere por algo especial. Mas a promessa não seria cumprida.

As opções do enxutíssimo menu não eram nada inspiradoras. E à medida que os pratos se sucediam, íamos percebendo que o problema não se limitaria à falta de inspiração. Minha entrada trazia camarõezinhos bastante saborosos, porém sufocados por um pesado e gorduroso creme de abacate e coroados por uma fatia de brioche (?) mal tostada. Completava a cena um enjoativo creme de erva-doce.

O fusilli com ragu de coelho estava longe do padrão esperado num restaurante como esse. A massa estava um tom acima do ponto e o ragu era absolutamente inexpressivo. No fundo do prato, depositava-se um molho ralo e cheio de partículas de gordura.

O melhor do almoço ficaria por conta da bondiola de cerdo. O corte de porco, com a carne entremeada de gordura, era muito saboroso. O chutney de frutas, uma boa resposta à untuosidade do prato, que era, aliás, um bom prato, mas longe da sublimação pela qual eu ainda esperava...

A pá de cal ficou por conta da sobremesa, um banal biscuit de chocolate com mousse de chocolate, acompanhado de um sorbet de cacau que não tinha gosto de nada.

Não descarto que tenha sido falta de sorte. Quem sabe eu tenha sido vítima dos desígnios de um dia arrevesado – na minha vida ou na do restaurante. Mas não é isso o que me diz minha intuição. E, daqui pra frente, passo a pensar duas vezes antes de ignorá-la...

 

Tomo I – Carlos Pellegrini 521 – Buenos Aires
http://tomo1.com.ar/

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