Não fossem as circunstâncias que me levaram ao Mini Palais em janeiro, talvez ainda demorasse a conhecer a brasserie contemporânea anexa ao Grand Palais. Não sei dizer por que, mas nem o cardápio assinado por Eric Frechon, nem as boas resenhas que já havia lido sobre a casa tinham despertado em mim entusiasmo suficiente pra colocá-la na minha relação de prioridades em Paris. Mas a notícia de que o restaurante estaria aberto no primeiro dia do ano levou-a imediatamente ao topo da lista. Ao saber, então, que o Grand Palais estaria aberto naquele dia, me acenando com exposição de Edward Hopper, me senti dona de um bilhete de loteria premiado. Não pensei duas vezes.
Ao chegar, a fila na porta dava a medida da falta de originalidade da minha ideia. O céu de azul irreal me inspirava otimismo e me fez resistir uma hora na espera por Hopper. Mas o frio era muito e trouxe de volta minha habitual impaciência, desencorajando-me diante da promessa de pelo menos mais uma hora na fila. Segui pra segunda parte do programa. A mesa reservada com antecedência garantia que a investida no Mini Palais seria mais bem-sucedida.
Quando me acomodei, ainda pensava na exposição perdida, mas a gougère tamanho GG que nos deu as boas-vindas me fez esquecer. Uma nuvem debaixo da crosta crocante, deliciosa, talvez a melhor que eu já tenha comido. Comeria mais uma, mas fiquei só na intenção. Me arrependo até agora.
Comecei com uma gostosa conserva de sardinhas, acompanhada de excelente pão e ótima manteiga.
Segui com o penne com chorizo e manjericão, que, confesso, pedi sem muita fé. Cada garfada a restabelecia. Massa no ponto certo, economia no molho, pontuado por tomates doces e pedacinhos de chorizo. Simples e muito gostoso.
O anticlímax ficou por conta da sobremesa. Na versão meio inexpressiva do clássico Mont Blanc, só brilhava o sorvete de baunilha. O lindo baba ao rum da mesa vizinha me dava certeza de que havia escolhido mal.
De modo geral, encontrei ali boa comida, ainda que não especial – à exceção da atordoante gougère, merecedora de todas as loas. Não são poucos os lugares onde já comi melhor em Paris. Mas, inclusive por estar onde está, considero voltar. Afinal, o lugar me soa como ótimo desfecho a uma visita ao Grand Palais. Especialmente, se o inverno estiver distante e houver a promessa de uma mesa na varanda, que muitos garantem ser das mais agradáveis da cidade.
Mini Palais – Avenue Winston Churchill - Grand Palais - 8ème