Passage 53: pequeno notável

Outubro 2011

Eis um restaurante que estava na minha lista há algum tempo. Uma casa pequena, escondida na Passage des Panoramas, que, surpreendentemente, pouco tempo depois de inaugurada já arrancava elogios da crítica e garfava estrelas Michelin – a segunda veio com a edição 2011 do guia. Desde o ano passado, eu me prometia uma visita pra ver de perto o que se passava ali. Acabei percorrendo caminhos outros e não cumpri a promessa. Ficou pra esse ano. O dia em que estive lá era, definitivamente, um dia de quitar pendências com Paris. Aproveitei o almoço pra encontrar uma pessoa que também estava na minha mira há tempos, mas que ainda não tinha tido oportunidade de conhecer: a Lina Hauteville, autora do blog Conexão Paris, brasileira que vive na capital francesa há três décadas. Lina, muito mais rápida e eficiente que eu, já relatou por lá o nosso encontro. Juntou-se a nós, ainda, a querida Lena Gasparetto. E paramos por aí, pois bastaria chamar mais alguns amigos e já estaríamos perto de atingir a lotação da casa...

Bastante acanhado, o espaço consegue ser menor do que eu imaginava, mas o que tem de pequeno tem de elegante. Com tamanha discrição, pode facilmente passar despercebido em meio àquela maravilhosa mistura que é a Passage des Panoramas, a mais antiga passagem coberta de Paris. Mas se a ideia era não chamar atenção, parece que o plano não deu muito certo. Nos círculos gastronômicos, não há quem não tenha ouvido falar no Passage 53. E não é à toa. Das mãos de uma equipe de japoneses comandados por Shinichi Sato sai uma sequência de belas composições, a partir de produtos soberbos. Algumas mais inspiradas, outras menos, mas todas executadas com maestria. Sem senões. Uma cozinha de extrema delicadeza complementada por um serviço sóbrio, cordial, eficiente. Meu almoço fluiu como um concerto de orquestra, sem o menor esboço de tropeços ou atropelos.

Começamos com bons pães, acompanhados de manteiga Bordier – nome que soou como música aos meus ouvidos recém-chegados da Bretanha.

De amuse bouche, um levíssimo, quase etéreo, creme de cenoura com notas de avelã.

A seguir, delicadas alcachofras fritas contracenavam com as pequeninas e saborosas moules da baía do Mont Saint Michel. Havia comido um balde delas dias antes na Bretanha e fiquei feliz com o reencontro.

Uma bela releitura dos oeufs basquaises trazia um ovo em baixa temperatura mergulhado numa espuma de pimentões, que escondia feijões brancos no fundo do prato.

O lieu jaune veio em cocção perfeita, com um sutil molho de cogumelos perfumado com avelãs (novamente elas) e lascas de cogumelos de Paris.

No último prato, uma deliciosa galinha d’angola - pele crocante; a carne, uma manteiga – vinha acompanhada de um falso risotto de ervilhas, batatinhas croustillantes e um creme de berinjelas grelhadas que, claramente, não se submetia à sina de mero coadjuvante.

A sobremesa veio no plural. Do jeito que eu gosto. Um perfumado sorbet de grapefruit com lichias. Uma gostosa torta de chocolate, de recheio sedoso, mas sem a qual eu poderia viver tranquilamente. E ele, um mont blanc versão banana, que é, sem dúvida, das melhores sobremesas que comi ultimamente. Dessas difíceis de esquecer.

Pra encerrar, madeleines quentinhas que fariam Proust se ajoelhar...

Passage 53 – 53 Passage des Panoramas – 2ème – Paris
http://www.passage53.com/

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por: Lu em 22-03-2013
UAU!!! Já anotei p/tentar ir na próxima vez!
por: Ana lucia em 12-07-2017
Que delícia de comentários!!da vontade de ir hoje para paris!
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