Tinha apenas um dia em Turim, antes de me despedir do Piemonte. Dei-me a liberdade de gastá-lo andando sem rumo, sem obrigações. Ou quase isso. O único compromisso era a reserva num restaurante a duas quadras do meu hotel. Em nome da retórica, eu poderia dizer que, por obra do destino, acabei num dos melhores endereços da cidade. Mas a verdade é que o hotel foi escolhido justamente por estar a poucos metros do Ristorante Consorzio.
Ao entrar, fui imediatamente conquistada pela atmosfera do lugar. Se é que se pode dizer que a cozinha se delineia como uma trattoria moderna, o salão é propositadamente antigo.
O cardápio homenageia produtos oriundos de pequenas produções – muitos deles protegidos pelo projeto Presìdi Slow Food – e evoca a tradição culinária local, sem, no entanto, estar atado a ela.
Ainda me arrependo de não ter começado pela entrada que reunia timo, amêndoas, anchovas e marsala De Bartoli. Mas o uovo croccante me cegou pras demais opções – havendo ovo, dificilmente consigo resistir. Empanado, gema perfeita, acompanhado de espinafre, bacon e fonduta de cheddar.
A bochecha de vitela (de Fassona, raça de gado piemontês), em intenso e saboroso molho de vinho, tinha a companhia de um delicado purê de aipo.
O ponto alto da refeição foram os deliciosos raviólis de finanziera, onde o clássico guisado de miúdos piemontês (timo, tutano, miolos) surge também como recheio da massa. Um prato de resistência abordado com tremenda sutileza.
Pedi a panna cotta da casa motivada por uma fagulha de esperança de que me fizesse recordar o sublime exemplar que experimentara um dia antes na Osteria del Boccondivino, em Bra. Inútil tentar, não haveria outra como aquela. Mas a verdade é que, depois dos raviólis de finanziera, nada mais era preciso.
Meus olhos deixaram a sobremesa e foram devolvidos ao salão, de onde eu não tinha vontade de ir embora. Sem dúvida, meu tipo de lugar.
Ristorante Consorzio – Via Monte di Pietà, 23 - Turim
http://ristoranteconsorzio.com/