Não são incomuns jantares em que, após dez ou mais cursos de um menu degustação, o chef não tenha conseguido dizer a que veio. Mais raro é deparar com um restaurante onde um simples percurso de entrada-prato-sobremesa não lhe deixe dúvida de que é um dos melhores onde você já esteve. Assim foi com o Ze Kitchen Galerie, um dos restaurantes de mais sólida reputação em Paris. Há anos eu vinha adiando uma visita à casa. Sempre acontecia alguma coisa que me fazia desviar o caminho. Felizmente, consegui resolver essa pendência na última passagem pela cidade.
O ambiente, mistura de galeria de arte e restaurante, sugere um tanto da personalidade do chef. William Ledeuil sabe ousar sem se perder e sem se preocupar com modismos. É autor de uma cozinha inventiva, mas de bases consistentes. Cozinha que revela um acento asiático, com marcante uso de pimentas e especiarias, resultando em pratos vibrantes, mas sempre equilibrados. Sobretudo, sua comida tem sabor, tem alma. E Ledeuil apresenta, ainda, uma virtude rara: é tão bom pâtissier quanto chef de cozinha – o que pude conferir não apenas nessa visita, mas também em sua aula no festival Omnivore.
Comecei meu almoço com raviólis de porco em molho thai. Massa delicadíssima, como um wonton, envelopando um recheio de carne de porco absurdamente bom. A brunoise de alho grelhado, coroando os raviólis, era a cereja do bolo.
Em seguida, cordeiro em três versões: grelhado, confit com finalização na grelha e recheio de um rolinho crocante. Acompanhando, repolho, cenouras e um delicioso molho de chorizo com missô.
Pra encerrar, uma soberba sopa fria de castanhas com leite de coco, pera confit e crocantes de brioche. A sopa escondia, ainda, uma marmelada de tâmaras e pedacinhos de castanhas em calda.
Saí do Ze Kitchen com a certeza de que preciso voltar.
Ze Kitchen Galerie – 4 rue des Grands Augustins – 6ème
http://www.zekitchengalerie.fr
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