Parecem simples as receitas de alguns dos meus doces prediletos. Engana-se, porém, quem pensa que a doçaria portuguesa é um ofício banal, nada além de misturar ovos e açúcar. O delicado equilíbrio que faz a diferença entre exemplares pesados, excessivamente doces, e as pequenas joias que brotam de mãos zelosas é algo difícil de encontrar. Mas vale a pena procurar. Uma visita a Portugal sem essa busca não tem a mesma graça. Eis algumas confeitarias que tornaram melhor minha passagem recente pelo país.
Pastéis de Belém
Volto sempre. Porque tão bom quanto descobrir novos lugares é voltar a endereços familiares e encontrá-los exatamente como os deixamos no último encontro, quase como se estivessem esperando por nós durante todo o tempo em que estivemos longe.
As filas continuam enormes e os amplos salões, lotados. O que garante constantes fornadas e pastéis sempre frescos. Chegam à mesa com a massa estalando e o cremoso recheio ainda quentinho, pronto pra receber a chuva de canela. Há outros clichês que vale a pena cometer em Lisboa, mas poucos tão gostosos quanto este.
Doce História
A pequena loja, no entorno do belíssimo Miradouro de São Pedro de Alcântara, reúne em suas prateleiras especialidades de vários cantos do país. Como não são fabricados ali, os doces nem sempre são os mais frescos. Entre os que experimentei, nem todos eram bons, mas por um deles eu seria capaz de voltar todos os dias: as queijadas do céu. A textura do recheio, à base de ovos e gila, ainda não me saiu da memória.
Confeitaria da Ponte
Uma pequena linda cidade. Um rio. Uma ponte medieval. De um lado da ponte, um convento do século XVI. Do outro, debruçada sobre o rio, uma confeitaria com mais de oitenta anos de idade. Eu tinha motivos de sobra a justificar um desvio em meu caminho, para uma breve passagem por Amarante.
As vitrines da histórica confeitaria dão vida a clássicos que povoam os manuais da doçaria portuguesa. Diante delas, a vontade era experimentar tudo. A criança que ainda mora na ponta do meu dedo movia-o em todas as direções. Quando me dei conta, já havia mais de meia dúzia de doces em nossa mesa. Minha versão adulta me mandava parar.
Nem tudo o que comi era digno de nota. Gostei muito do que ali chamam papo de anjo: doce de ovos envolto em hóstia crocante, no mesmo formato das barrigas de freira. Também deliciosa era a queijada de amêndoas e gila.
Ainda melhores estavam os amarelíssimos papos de anjo – que ali atendem pelo nome de amarantinos. Encerrei a visita com um deles.
Acomodada na varanda, olhava o rio, a ponte, e ia comendo bem devagar, na tentativa de tapear o tempo e aprisionar a fugacidade do momento.
Pastéis de Belém – Rua de Belém nº 84 – 92 - Lisboa
Doce História - Rua Dom Pedro V nº 1 – Lisboa
https://www.facebook.com/pages/Doce-Hist%C3%B3ria/126020717500748
Confeitaria da Ponte - Rua 31 de Janeiro nº 186 - Amarante