Um dos lugares obrigatórios na minha lista em Paris era o Le Comptoir du Relais, do incensado Yves Camdeborde. Se há um chef sem estrelas que conseguiu o respeito e a fama de um estrelado no Guia Michelin é ele. As filas intermináveis que gente de todo o mundo encara corajosamente, mesmo nas noites mais geladas, não deixam dúvida de que o restaurante é um sucesso.
Cheguei cedo porque não tenho muita paciência pra filas. Muito menos no frio que fazia na cidade naquela noite. Uma amiga parisiense já me aguardava lá dentro e já havia sido devidamente brindada com a arrogância e a rudeza da gerente da casa. Preços que se pagam pra ser feliz em Paris.
Fomos ao cardápio, bem clássico, sem surpresas. No fim de semana, não é servido o menu-degustação de Camdeborde e o cardápio reflete uma cozinha de brasserie.
Minhas eram grandes. Talvez grande demais. É a velha história: grandes expectativas, trampolim pra decepções. Tudo o que comemos naquela noite estava bom. Mas nada especial. Nada que nos fizesse querer voltar.
A salada de polvo veio meio bagunçada e apenas correta.
Melhor estava a terrine de foie gras com lâminas de peras.
Melhores ainda, talvez o melhor da noite, estavam os cogumelos salteados com presunto de Parma. É preciso reconhecer como brilha um prato onde reina o produto da estação. Cogumelos servidos em seu esplendor, nada mais. Simples assim.
A brandade de bacalhau gratinada está longe de figurar entre as melhores que já comi...
O cordeiro com purê de batatas aromatizado com azeitonas estava saboroso e suculento.
A torta folhada de maçãs com sorvete de baunilha era boa, como era bom o sorvete. Nem mais, nem menos.
Alguém pode perguntar: e um restaurante precisa ser mais do que isso? Talvez eu não tenha uma boa resposta pra essa pergunta. Apenas acho que há restaurantes e restaurantes. E o grau de exigência acaba se acomodando à proposta do lugar, aos elogios que recebe da crítica... A questão é que não conheço um único guia gastronômico que se refira à casa de Camdeborde sem entusiasmo. Então, era entusiasmo o mínimo que eu esperava que ela me proporcionasse. E , ao menos naquela noite, o Le Comptoir ficou me devendo essa. Talvez a casa não estivesse no seu melhor dia. Talvez eu não estivesse num bom dia. Ou talvez as pessoas tenham se acostumado a corroborar os mitos e jamais contrariá-los. Não há como saber, não terei essa resposta. Quem sabe só mesmo voltando e tirando a prova dos nove.
Le Comptoir Du Relais – 05 Carrefour de l’Odéon – 6ème