Qual é o melhor bacalhau do Rio de Janeiro?

Julho 2011

Já adianto que não tenho a pretensão de responder essa pergunta. Ocasionalmente, caio na armadilha de eleger o “melhor isso”, o “melhor aquilo”, mas, em geral, não gosto muito da ideia. Porque, na verdade, não existe o “melhor”. Claro, há que existir um misto de bom senso e de conhecimento que permita reconhecer o que é ruim e diferenciar o razoável do bom, o bom do ótimo, o ótimo do extraordinário. Fora isso, há o que é melhor pra mim, o que é melhor pra você e estamos conversados.

Portanto, no início deste ano, quando a revista Prazeres da Mesa me pediu uma matéria sobre os melhores bacalhaus do Rio (dando prioridade aos pratos de preparo bem tradicional), pra integrar o especial que saiu em março, na edição de Páscoa, eu tinha em mente que nada do que eu apurasse teria o poder de esgotar a questão. Mas, ainda assim, mesmo sem me atribuir essa responsabilidade, não quis me valer apenas da memória de refeições recentes. Saí em campo, visitei e revisitei alguns lugares, entre Rio e arredores. Várias refeições ao longo de quatro, cinco dias. Tirei dali, não uma seleção definitiva, mas a mais fiel àquela sequência de experiências. Para aqueles que sejam tão fãs da iguaria como eu, trago aqui uma pincelada sobre o que de melhor experimentei nesse meu intensivo em bacalhau.

O tradicional e emblemático Adegão Português dispensa comentários. A matriz, em São Cristóvão, atravessa décadas servindo impecáveis bacalhaus. Matéria prima excepcional, tratada com o devido respeito. Só usam Gadus Morhua, inclusive nos bolinhos. Aliás, começo sempre por eles e até passeio por pratos como o Bacalhau Adegão, em que o lombo é assado na brasa e servido com pimentões vermelhos, cebolas e batatas, mas é no Bacalhau a Lagareiro que reside minha predileção. Lombo assado no forno, com batatas coradas e brócolis, tudo coberto por um perfumadíssimo refogado de cebolas em açafrão. Uma maravilha.

O lado de lá da ponte Rio-Niterói revela uma surpresa que justifica a travessia: o restaurante Gruta de Santo Antônio, sobre o qual já falei aqui.

Seus bolinhos de bacalhau são os mais perfeitos de que tenho notícia por aqui. Nem os de restaurantes como Antiquarius, Mosteiro ou o próprio Adegão são tão bons.

O excelente Bacalhau a Lagareiro é páreo pro do Adegão. Experimentei, ainda, o Bacalhau do Chef, que entra em cartaz na proposta de menu degustação da casa, fora do cardápio: o peixe repousa sobre uma batata ao murro e é coberto por cebolas refogadas e um ovo poché. Ao se romper o ovo, a gema soma sabor ao peixe, enriquecendo o prato.

Melhor que a comida do Gruta, só mesmo dois dedinhos de prosa com Dona Henriqueta Henriques, fundadora da casa, portuguesa de Alcobaça, dona de sotaque melodioso, figura ímpar.

Por fim, uma boa surpresa. Um prato que entrou na matéria quase por acidente. Eu não pretendia ir tão longe, mas o Leopoldina, no Solar do Império, em Petrópolis, me apresentou um dos bacalhaus mais saborosos que experimentei ultimamente... Não se trata propriamente de uma casa portuguesa. Mas no comando dos fogões está Cláudia Mascarenhas, casada com um lisboeta que lhe ensinou a paixão pela cozinha. Os bacalhaus que estão no cardápio do Leopoldina são, de certa forma, uma herança dos tempos em que Claudia viveu em Portugal, onde aprendeu muito do que sabe sobre seu preparo, embora confesse que as matriarcas portuguesas jamais lhe deixaram tocar nos fogões.

O que, particularmente, me encantou foi o “Bacalhau pensado na cama”.

Nacos de um riquíssimo lombo, ladeados por batatas cozidas com casca, mergulhados num mar de azeite e cobertos por azeitonas e as mais delicadas lâminas de alho, douradas na medida. Um prato bem sucedido desde o batismo. Quem batizou? O marido de Claudia, o que só reforça a minha admiração pelo jeito delicioso e bastante peculiar que têm os portugueses de nomear as coisas...

 

Adegão Português – Campo de São Cristóvão 212 – São Cristóvão – Rio de Janeiro
www.adegaoportugues.com.br/
Gruta de Santo Antônio - Rua Silva Jardim 148 – Ponta da Areia – Niterói
www.grutadesantoantonio.com.br/
Leopoldina - no Hotel Solar do Império - Av. Koeller 376 – Centro - Petrópolis
www.solardoimperio.com.br/
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por: antonio oliveira da silva em 19-12-2012
não desfazendo do adegão ARARUAMA também o seu bacalhau passe no SHOW DOS PETISCOS e tire A DÚVIDA\ UM SHOW
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