Em 2008 estive pela primeira vez no extinto restaurante Roberta Sudbrack. Ao longo dos anos, voltei muitas vezes. Em algumas delas, pensei em levar minha mãe. Acabava desistindo, com receio de que ela achasse solene demais, caro demais.
Há poucos meses, finalmente apresentei a ela a cozinha de Sudbrack. Entre minha primeira visita ao RS, em 2008, e o almoço com a mãe no novo Sud, é provável que a vida da chef tenha dado muitas voltas. Hoje, livre das amarras dos códigos da alta gastronomia, ela cumpre na nova casa a promessa de liberdade que esboçou ao se despedir da anterior.
Desde julho, estive três vezes no novo endereço. Na visita inicial, mesmo considerando a cartilha de informalidade que se professa ali, o serviço precisava de ajustes. Natural em um estabelecimento na primeira semana de vida. Um mês depois, já encontrei a equipe imensamente mais afinada – o único reparo que eu faria hoje se refere à prática de repor constantemente garrafas de água ou cerveja, mesmo quando a reposição não é solicitada.
Quanto ao cardápio, o Sud não é exatamente fácil de classificar – o que não me parece um problema, avessa que sou a classificações. Quando me perguntam qual é o tipo de comida servida ali, compartilho minha impressão de que Roberta talvez também não esteja preocupada com classificações. Arrisco dizer que propõe pratos que ela mesma possivelmente goste de comer e que lhe proporcionem especial prazer ao cozinhar. É comida com jeito de casa: para além de eventuais imperfeições, acolhe, conforta, faz a gente querer ficar, comer mais um pouco, protelar a partida.
Quase tudo é preparado ou finalizado no poético forno a lenha que é a grande estrela do salão. A proposta transita por diferentes referências: das indefectíveis gougères à boa pissaladière, da carne cruda à saborosa terrine de porco (acompanhada de correto pão da casa), dos ovos “fritos” com bottarga brasileira ao farto e delicioso arroz caipira, da delicadeza do clafoutis de peras à generosidade do bolo de chocolate ou do bomboloni com doce de leite.
Eu diria que, quaisquer que tenham sido os caminhos percorridos pela cozinheira desde o fechamento do RS até a inauguração do Sud, o lugar aonde chegou é desses onde a gente tem vontade de estar. Ao final de uma das recentes visitas, minha mãe, explicitamente feliz por estar ali, fez um comentário que me deixou uma ponta de inveja: “Minha filha, essa moça é uma jardineira da cozinha”. Precisou de uma única refeição pra sintetizar o que eu talvez não tenha sido capaz de traduzir em uma década.
SUD, o Pássaro Verde – Rua Visconde de Carandaí 35 – Jardim Botânico