Acho que o mundo nunca viveu um momento em que a imagem exercesse tamanho poder sobre as pessoas como hoje... A todo momento, somos intensamente estimulados visualmente. E no que toca mais particularmente ao universo da gastronomia, tenho mesmo a sensação de que as pessoas, ao acessarem um blog ou folhearem uma revista, mais do que ler, querem ver. Acho, sim, que as imagens tornam um post ou um artigo mais agradáveis. Sou por elas, não contra elas. Mas, volta e meia, eu me pego pensando no risco que há por trás de se sucumbir completamente às imagens em detrimento da palavra... Afinal, há coisas que não podem ser ditas sem palavras... E mais, uma bela imagem seguida de comentários vagos pode gerar falsas impressões em quem lê...
Se eu digo que visitei a famosa Confeitaria Escribà, em Barcelona, e, numa tarde deliciosa, experimentei alguns de seus doces e acompanho essa informação da foto a seguir...
...muitos, naturalmente, pensariam que foi uma bela experiência. Só podem saber que achei uma bobagem tudo o que provei ali, se eu lhes digo isso textualmente.
Se eu me refiro ao meu jantar recente no Fasano São Paulo, numa simples descrição prato-a-prato, e elenco o gnocchi recheado de ossobuco acompanhado desta foto...
...muitos poderiam pensar que o prato estava incrível. Só podem saber que, além de não estar incrível, estava salgado, se eu digo isso com todas as letras.
Se, ao relatar meu último almoço no 66 Bistrô, eu apenas apresento a foto a seguir, acompanhada da descrição da minha sobremesa...
...você poderiam saber que esses profiteroles estão longe, muito longe dos bons profiteroles que já experimentei?
Last but not least: se eu, ao narrar minha visita ao paulistano Marakuthai, apenas digo que minha sobremesa foi um creme brulê de coco com geléia de manga e, em seguida, mostro essa foto...
...vocês poderiam saber que o que me foi servido sequer era, tecnicamente, um creme brulê?
Será que são só devaneios meus? Ou será que, nessa era visual, quando as palavras são poucas (e, mesmo, quando palavras quase não há), mais do que nunca, é fundamental a credibilidade da fonte?