Ao longo dos últimos meses, vários leitores me perguntaram se eu não compartilharia aqui minhas impressões sobre o Oteque, a nova casa do chef Alberto Landgraf, inaugurada em Botafogo no mês de fevereiro. Ainda não havia falado a respeito, pois minha resenha sobre o restaurante seria publicada na Revista FEIRA, lançada em setembro passado. Compratilho agora o texto originalmente publicado em FEIRA.
Estive alguns pares de vezes no Epice, em São Paulo, restaurante que nos revelou o talento de Alberto Landgraf. Após dois anos de hiato desde o fechamento da casa paulistana, o cozinheiro reaparece no Rio de Janeiro, no comando do Oteque.
Se, na forma, o que vemos é a repetição de um modelo que se tornou comum na cidade – casa tombada em Botafogo, investimento milionário, reforma conduzida pelos mesmos arquitetos que já assinaram tantos outros projetos de restaurantes na Zona Sul –, no conteúdo o Oteque voa alto.
Landgraf ressurge ainda melhor, mais livre, mais maduro. Seu novo projeto é uma aula do que pode ser – do que se espera que seja – um menu degustação. Pratos arquitetados com inteligência e aparente simplicidade, sem cair no lugar-comum nem abrir mão de algo fundamental: o sabor.
Como a conclamar a cidade litorânea a retomar sua vocação, uma ementa em grande parte dedicada a peixes e frutos do mar revela precisão na execução (o ponto de pescados, carnes e vegetais é sempre impecável), sobriedade na escolha dos ingredientes e ousadia nos diálogos estabelecidos entre eles. Quanto mais arriscado esse diálogo, mais bem-sucedido parece o resultado.
Mais do que no frescor das ostras com maçã verde, é na surpresa das lambretas com leite de castanha-do-pará que se evidencia o talento do cozinheiro. Mais do que na delicadeza do sorbet de pera com ganache de chocolate, é na improbabilidade do encontro do milho-verde com a tangerina que Landgraf faz diferença. Um dos melhores bocados experimentados nas visitas que fiz à casa, o boudin de foie gras com tucupi talvez sintetize bem a expressão de uma cozinha que se agiganta quando trafega fora da zona de conforto.
Mesmo quando mais ousa, o chef jamais vai além do necessário para expressar sua ideia. Com brilho, mas sem excessos, conduz o comensal com leveza e naturalidade, sem abrir espaço para que se entedie ou tenha a sensação de que comeu em vão.
Oteque – Rua Conde de Irajá, 581 – Botafogo. Tel.: (21) 3486-5758 – www.oteque.com