Comendo e aprendendo

Agosto 2012

Quanto mais eu como, mais me convenço de que opinião alguma que eu manifeste aqui pode se pretender definitiva. Porque restaurantes, como nós, são engrenagens vivas. Portanto, sujeitas a constantes mudanças – para o bem e para o mal. Quantas vezes voltamos a um restaurante e ele já não é o mesmo – ou nós já não somos? Entender isso torna mais interessante o processo de confrontar as próprias verdades.

Nos últimos meses, me peguei pensando a respeito disso em duas ocasiões. Uma delas no restaurante Quadrucci, onde, ultimamente, vinha tendo refeições que não iam além do razoável. Em meu último almoço na casa, comi, de modo geral, surpreendentemente bem. Num percurso de altos e baixos, me vi diante de pelo menos dois pratos que se revelaram boas surpresas. Um trazia camarões e lulas (estas não tão boas quanto os camarões) sobre uma delicada base de tomate e mascarpone. O outro, ainda melhor, era uma deliciosa compota de pato confit com alho poró e laranja, que me fez querer voltar. Saí me perguntando se o Quadrucci mudou pra melhor ou se aquele foi um dia atipicamente feliz na vida de um restaurante mediano. O tempo me dirá. O importante é que eu esteja aberta a ouvir o que ele tenha a dizer.

Quadrucci  Quadrucci

A outra situação que me trouxe de volta essa reflexão aconteceu no Aconchego Carioca. Uma série de recentes refeições ali me fez pôr em xeque uma velha convicção minha. Frequento o Aconchego desde que ficava do outro lado da rua Barão de Iguatemi e era, indiscutivelmente, um bar. A casa cresceu, ganhou porte de restaurante, mas, pra mim, manteve a mesma alma. Sempre achei que o lado bar do cardápio valia imensamente mais a investida que a faceta restaurante – nunca fui muito feliz com minhas incursões pelos pratos principais. Tomei isso como verdade. E passei muito tempo sem questionar.

Aconchego Carioca

Pois, nos últimos meses, estive na casa com olhos mais investigativos, por conta de uma votação para um prêmio de gastronomia. Me obriguei a confrontar minhas verdades e visitar e revisitar alguns pratos. E me vi, pra dizer o mínimo, diante do melhor bobó (cujo único senão era o arroz do acompanhamento) e do melhor escondidinho que comi no Rio de Janeiro nos últimos tempos.

Aconchego Carioca

Aconchego Carioca

Mudei eu ou mudou o Aconchego? Provavelmente, eu. Mas pouco importa. O que interessa é que ganhei novos motivos pra voltar ainda mais vezes à casa que, hoje, considero um restaurante quase tão bom quanto o bar que é. Sim, ainda acho que o lado bar é onde mais brilha a alma da dona, Kátia Barbosa. Mas quem sabe o tempo ainda me convença do contrário...

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