Crédito: Christian Cravo
Chocolate é uma das minhas predileções na vida. Sou uma consumidora voraz. Pesquiso e experimento tudo que posso. Mas confesso que meu paladar não é treinado pra perceber sutilezas como as notas de pain d’épices ou bergamota que são sugeridas nas fichas de degustação de algumas maravilhas que já passaram por minhas mãos... Sei apenas dizer, de forma mais intuitiva do que técnica, se gosto ou se não gosto. E vou elegendo meus favoritos, entre os quais estão produtores como Valrhona, Pralus, Michel Cluizel, Amedei e Domori. Lista, certamente, cheia de lacunas que – espero – a vida ainda há de me permitir preencher.
Há alguns meses, com uma boa dose de felicidade e orgulho, promovi ao rol dos meus eleitos um chocolate brasileiro. Já havia lido sobre a Amma e alimentava enorme curiosidade sobre a marca, quando seus chocolates cruzaram meu caminho, em São Paulo. Naquela altura, sequer eram vendidos no Rio de Janeiro. Comprei, experimentei e tive uma bela surpresa. O brilho, a textura aveludada, a persistência na boca, o equilíbrio, tudo me dizia que, finalmente, tínhamos um chocolate com capacidade de competir com as boas marcas estrangeiras.
Há poucos dias, tive a oportunidade de conversar pessoalmente com o homem por trás da marca. De passagem pelo Rio, onde distribui seus chocolates desde janeiro, Diego Badaró me deu o prazer de conhecê-lo e ouvi-lo falar um pouco sobre seu trabalho. Alguns minutos de conversa bastam pra entender que se trata de um apaixonado pelo que faz. Uma dessas pessoas que não propriamente escolhem um ofício, mas, antes, são escolhidas por ele.
Quinta geração de uma família de cacauicultores em Ilhéus, Diego tem uma relação orgânica com aquele terroir. Compreendê-lo e respeitá-lo é o ponto de partida de seu trabalho, que, segundo ele, vai muito além de um fabricar um produto gastronômico e tem seu motor na preservação de recursos naturais que são fonte de vida. Talvez, esteja aí seu grande diferencial: o controle total da cadeia produtiva, acompanhando desde a plantação do fruto até a produção final em sua fábrica em Salvador.
Desde o ano passado, a Amma tem no mercado uma linha de tabletes com porcentagens que variam de 30% a 85% de cacau, feitos com grãos de alta qualidade, tratados, desde a árvore e durante o todo processo de fermentação e torrefação, com o cuidado digno de um grande produto. Não há adição de baunilha, tão comumente usada pra camuflar eventuais defeitos. É só cacau, manteiga de cacau e açúcar (e leite, no 30% e no 45%), resultando num produto de alta qualidade, que já brilha nas mãos de chefs como Alex Atala, Bel Coelho e Julien Mercier.
No caldeirão da Amma, mais surpresas vêm sendo gestadas. Já está sendo desenvolvida uma barra 100% de cacau, que Diego afirma ser uma verdadeira joia. Fora a linha que está no mercado, planeja lançar, ainda esse ano, uma edição limitada, explorando castanhas e infusões de frutas. E já fala em abrir uma loja no eixo Rio-São Paulo. Além disso, ainda arruma tempo pra se envolver na recepção da primeira edição do Salon du Chocolat em terras brasileiras (aliás, a primeira em um país produtor de cacau), a acontecer em 2012.
Um alento ver mãos brasileiras transformando nosso cacau num produto à sua altura. Tomara o que estamos testemunhando sejam apenas os primeiros passos no sentido de um caminho promissor pro mercado do chocolate brasileiro.
AMMA
www.ammachocolate.com.br
No Rio de Janeiro, à venda no Talho Capixaba, na Delly Gil, no Café Sorelle e em algumas lojas da rede de mercados Zona Sul.
As atualizações do blog também estão no meu twitter.