Taberna da Rua das Flores, em Lisboa

Julho 2013

Taberna da Rua das Flores Lisboa

Melhor do que ler bons guias gastronômicos é ter, em alguns cantos do mundo, amigos que compartilhem a paixão que tenho pelo universo das comidas. Em Portugal, conto com um desses, o Miguel Santos. Sujeito em cuja opinião confio de olhos fechados. Não apenas porque sei que, mais do que de restaurantes, ele gosta mesmo é de comida, mas, especialmente, porque é uma criatura sensível e sempre conectada ao que se passa nas mesas do mundo.

Ano passado, num e-mail em que me botava a par da cena gastronômica em Lisboa, Miguel assim me descreveu a então recém-inaugurada Taberna da Rua das Flores: “É completamente o oposto do frémito ‘ver e ser visto’, conforto e baixela de prata que move o mundo. O dono é um estudioso da gastronomia. Anda  toda a gente do ‘métier’ encantada com a simplicidade do que lá se serve”. Bastou pra que se acionasse minha campainha interna. Registrei imediatamente na lista de lugares a não deixar de conferir tão logo voltasse a Lisboa. Fiz bem.

Taberna da Rua das Flores Lisboa  Taberna da Rua das Flores Lisboa

Pegue-se uma antiga mercearia, dê-se novo figurino a ponto de fazer dela uma pequena e acolhedora tasca, sem que, no entanto, a atmosfera do espaço perca a conexão com seu passado. Recupere-se do esquecimento a alma e o receituário das antigas tabernas lisboetas. Subtraia afetação, some caráter. A felicidade da equação é perceptível assim que se cruza a entrada da casa, antes mesmo de os garfos chegarem às bocas.

Taberna da Rua das Flores Lisboa

Taberna da Rua das Flores  Taberna da Rua das Flores

O enxuto cardápio não vai além de uns poucos pratos do dia anunciados na lousa. Nem precisa. Ali, seja no ambiente, no serviço ou na cozinha, logo se percebe que a filosofia é a de que menos pode ser mais.

Taberna da Rua das Flores

Começamos com um delicioso queijo fresco de ovelha, com molho de pimenta dos Açores, enquanto aguardávamos os pratos.

Taberna da Rua das Flores

A meia desfeita de bacalhau era deliciosa em sua imensa simplicidade. Lascas de bacalhau, grão de bico, cebola, ovos cozidos, uma chuva de páprica. Um prato que poderia ter saído das cozinhas de nossas avós portuguesas – com a vantagem de ter, ali, um tanto mais de leveza na execução e de equilíbrio no tempero.

Taberna da Rua das Flores

A mesma alma de comida caseira estava presente nas “iscas com elas”: fígado de vitela em molho de baço com vinho branco, na companhia de batatas, alho e uma folha de louro.

Taberna da Rua das Flores

Pra encerrar, levíssimo pudim de claras com espesso caramelo.

Taberna da Rua das Flores

Havendo rocambole de laranja, não pude evitar. Devorava as fatias douradas e pensava com meus botões que há coisas que só as avós e, felizmente, uns poucos restaurantes, fazem por nós...

Taberna da Rua das Flores

Saí com a certeza de que, vivesse eu em Lisboa, seria assídua frequentadora da Taberna da Rua das Flores.

 

Taberna da Rua das Flores - Rua das Flores, 103 - Chiado

por: Pedro Rui Botelho em 08-07-2013
Olá Constance,

feliz de ter visto os meus Açores citados aqui pelo molho de pimenta.

um abraço do seu leitor de sempre
Pedro Botelho
por: Alhos, Passas & Maçãs em 09-07-2013
Constance,
vontade de ir lá.
Interessante ver como seus textos portugueses foram, passo a passo, ganhando construção e ritmo lusitanos. Coerência, contaminação, diálogo. Porque, num blog, mesmo se de comida, aquele que lê não deseja saber só de comida.
Beijos!
por: Constance em 09-07-2013
Minha vontade era poder ir sempre, ter um restaurante como esse a poucos passos de casa, Alhos.
Que bom saber que o texto expressa um pouco daquilo de que me impregnei nessa visita a Portugal - que, certamente, vai muito além da comida. Tem de ser mais que só comida.
por: patricia fontana em 12-07-2013
Constance,
Seus lindos textos emoldurados por Lisboa ficam mais deliciosos de serem lidos. Suas palavras sempre me fazem acreditar que a comida tem alma!
Continue nos encantando...
Abraços de uma fã
por: Constance em 12-07-2013
Puxa, que bom ler isso, Patricia. Obrigada.
por: claudia em 02-08-2013
O que mais dizer?
Faço das palavras ( belas) de Patricia Fontana, minhas palavras também
Cada post que recebo é como um presente inesperado,
Abraço
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