Cinco minutos foram o bastante pra que eu me sentisse transportada pra outro plano. A beleza do salão, as flores de cardo na janela, as xícaras de Oolong de boas-vindas faziam com que os ruídos da rua parecessem estar muito distantes de nós. Durante um par de horas, o discreto balé do serviço e a elegância da culinária franco-chinesa concebida por Adeline Grattard reafirmariam a impressão de um lugar especial, cuja cadência não se submete ao ritmo imposto do lado de lá da porta de entrada. No yam’Tcha, todos os detalhes revelam um profundo exercício de delicadeza.
Acomodada diante da cozinha aberta, eu observava a concentração e a firmeza de Grattard no comando da operação, e compreendia o resultado impecável. Da composição dos pratos à proposta de harmonização com vinhos e chás, tudo evidenciava precisão e equilíbrio.
O creme de milho com queijo cremoso era resposta à altura aos melhores curaus que já experimentei.
O creme de foie gras tinha a companhia de cogumelos de Paris, cèpes salteados e molho de savagnin. Desconfiei quando anunciada a harmonização com um Pu-Erh de 6 anos, mas me rendi ao primeiro gole.
Houve ainda um frango suculento com delicioso molho cujos detalhes minha memória já não alcança – perderam-se na espuma dos meses que me separam daquele almoço.
O frescor do sorbet de pera, de textura perfeita, com molho de gergelim preto e crocantes de gergelim, anunciava o princípio do fim.
Em seguida, sorbet de framboesa sobre biscoito de especiarias, com figo e framboesas frescas.
As mignardises (choux, guimauve de coco, chocolate) selariam a lembrança de uma dessas refeições que nos deixam a sensação de que nada é artificial, nada é excessivo, tudo está no lugar certo.
yam’Tcha - 121 rue St. Honoré - 1er arrondissement.