Quem acompanha o blog no Facebook (sim, pra quem ainda não viu, o Pra Quem Quiser me Visitar, finalmente, chegou ao Facebook) ou me segue no twitter, ficou a par de muito do que aconteceu no Mesa Tendências no início do mês. Sua 6ª edição teve em Alice Waters – proprietária do Chez Panisse, em Berkeley, e vice-presidente do Slow Food – uma das figuras mais aguardadas do congresso. A chef, que abriu o primeiro dia de evento diante de um auditório completamente lotado, arrastou uma legião de fãs por onde passou. Do alto de seus quase setenta anos, mantém o posto de primeira-dama da gastronomia americana, o que fica claro na reverência nos olhares se voltam pra ela. Não é à toa. Sei que não é preciso recapitular aqui os motivos que a levaram a conquistar esse lugar no cenário da gastronomia mundial, mas é sempre bom lembrar que foi ela, ainda na década de 70, a precursora do movimento que hoje chamamos locavorismo.
Depois de quase uma semana em São Paulo, Alice veio pro Rio, onde ficou por mais alguns dias. Tanto lá, como cá, como seria de se esperar, sua agenda não se limitou aos jantares nos melhores restaurantes das duas cidades. Em São Paulo, visitou a horta cultivada por alunos da rede estadual de ensino na Casa de Solidariedade II, no Parque Dom Pedro. Aqui, fez questão de conhecer o excelente Circuito Carioca de Feiras Orgânicas da ABIO, que reúne agricultores para vender seus produtos orgânicos diretamente ao consumidor, cada dia em um ponto da cidade.
Na companhia das chefs Silvana Bianchi, Roberta Sudbrack e Teresa Corção, a americana esteve na feira das terças-feiras na Praça Nossa Senhora da Paz, onde fez questão de visitar todas as bancas e conversar com os produtores – além de comprar seus produtos, que, ao fim da manhã, renderam-lhe uma bolsa cheia.
Dali, Alice seguiu pra um almoço no restaurante Celeiro, o que me pareceu fazer todo sentido. Foi um prazer testemunhar o encontro da chef com Rosa Herz, que comanda bravamente a casa do Leblon há três décadas. Duas mulheres à frente de seu tempo, cada uma dentro de suas circunstâncias.
Despedi-me de todos e vinha caminhando, pensando em tudo isso, quando entrou no meu celular uma mensagem da chef Teresa Corção, que dizia mais ou menos assim: “O final da festa foi uma feira livre gratuita que a Alice montou no lobby do hotel. Aprendi duas lições com ela: jamais barganhar preço com os produtores e sempre compartilhar a compra da feira com várias pessoas.”
Eis o flagrante da feira montada por Alice no lobby do hotel, em foto surrupiada do Instagram de Roberta Sudbrack:
A mensagem de Teresa e a imagem acima só reforçaram as impressões que me ficaram da chef americana naquela manhã: simplicidade, generosidade e um pensamento sempre voltado para o coletivo. Nenhuma surpresa. Afinal, de que outra matéria, que não esta, são feitos os líderes?