2013 me trouxe um punhado desses pequenos grandes momentos que nos fazem olhar pro céu e agradecer, reconhecendo, por uns minutos, algum sentido nessa coisa misteriosa que é nossa passagem pelo planeta.
Uma sublime galette des rois num fim de tarde de chuva fina em Paris.
O nó na garganta ao chegar a Constance, berço de meu avô e origem do meu nome, ao som das badaladas do sino da igrejinha da aldeia.
Carapaus fritos compartilhados com minha mãe em Lisboa, ouvindo-a rememorar os sabores da mesa da avó.
Tortillas e almejas no melhor balcão do mundo, num lindo dia de inverno em Barcelona.
Manhãs de Olinda com bolo de rolo, queijo de coalho e mel de engenho.
O nascimento de um disco muito especial, cuja gestação tive o privilégio de acompanhar, e cuja beleza embalou meus dias ao longo do ano, dos mais luminosos aos de angustiantes tormentas.
Tesouros – ora revelados em forma de gente, ora em forma de queijo – encontrados na Serra da Canastra.
Cerejas anunciando o verão no Vale do Douro.
Um prato de canjiquinha com lombo de porco numa tarde de julho em Minas Gerais.
O melhor papo de anjo da minha vida, devorado diante da ponte de Amarante, que é das coisas mais bonitas que os olhos podem ver.
Como nem tudo são flores, este ano me encontrou menos apaziguada, mais questionadora, menos paciente, muito mais ranzinza que o habitual. Atravessei-o sem entender muito bem o que andava acontecendo comigo. Ao apagar das luzes de 2013, numa derradeira tentativa de colocar os últimos meses em perspectiva, possivelmente tenha encontrado a origem do desassossego.
Este foi o ano em que me trouxe meus primeiros cabelos brancos. Suponho que, com eles, tenham vindo outros pequenos incômodos, numa espécie de estranho kit. Somente agora, olhando pra trás, me dou conta disso e vislumbro a possível justificativa para a impaciência sem par com que atravessei os últimos doze meses.
É possível que eles tenham me levado a ler menos Lucky Peach e mais Manoel de Barros. Provavelmente sejam eles os responsáveis por eu andar mais a fim de tortillas e papos de anjo e menos disposta a cardápios que vendem vaidade em vez de comida. Sim, deve ser deles a culpa de eu estar comendo mais assados, farofas, bolos à toa e vir reduzindo a frequência com que me lanço a menus de mais de cinco etapas, limitando as tentativas somente àquelas experiências que pareçam realmente fazer sentido – e justificar o tempo, a energia e o dinheiro empenhados desde o momento em que saio de casa até aquele em que volto pra minha cama.
Curioso. Dizendo assim, em voz alta, isso tudo nem me parece tão mau. Quer saber? Embora eu não seja dada a esses rituais, talvez deposite no mar um único desejo, pra dizer adeus a 2013 e dar as boas-vindas a 2014: que o novo ano me traga mais uma meia dúzia de cabelos brancos.