Epice: o voo de Alberto Landgraf

Julho 2011

A casa comandada por Alberto Landgraf nos Jardins tem poucos meses de vida, mas, desde que abriu as portas, vem dando o que falar. Não que tenha sido uma inauguração deliberadamente badalada. Ao contrário. Não conheço o chef, mas – nem sei bem por que – tenho dele a impressão de uma sobriedade rara no mundinho da gastronomia. Talvez porque tenha sido essa a sensação que me deixou o Epice. O fato é que muito se tem falado nele. Pelo que vi no meu almoço por lá, motivos não faltam.

O pequeno salão, elegante na sua simplicidade, de alguma forma antecipa o que se deva esperar da cozinha. O enxuto, interessante e nada óbvio cardápio (desses que fazem a gente querer voltar tantas vezes quantas sejam necessárias pra esgotá-lo) confirma a primeira impressão: não há excessos ali. O chef parece saber bem o que quer e tomar o rumo do que lhe interessa sem maiores rodeios. Louva o simples, no sentido de que, na cozinha, como no salão, não há espaço para mise-en-scène. Boas ideias giram em torno de poucos ingredientes, alguns pratos desdobrando-se em versões de um mesmo ingrediente. Como numa melodia de poucas notas, só as fundamentais. Não há nada de simples, no entanto, na sofisticação de suas escolhas e na elegância com que sua equipe as executa. Adianto: nem todas as coisas que experimentei me trouxeram igual entusiasmo. Mas saí convicta de que há consistência – e futuro – naquele trabalho, que o tempo e a maturidade podem levar longe. Que assim seja.

Os pães do couvert, que chegam à mesa com azeite, manteiga e flor de sal, me pareceram bons, embora não sejam tudo o que poderiam ser. Eu diria que ainda há o que fazer por eles.

Epice Alberto Landgraf

A primeira entrada foi a Abóbora. Variações em torno de um mesmo tema: gnocchi de abóbora, abóbora sauté e molho de abóbora. Ainda, shimeji, gelatina de parmesão e avelãs. Pedido incontornável pra uma fã do vegetal como eu. Mas o prato, embora delicado, ficou aquém do que eu esperava. E, particularmente, acho que os cubinhos de gelatina de parmesão não encontraram seu lugar naquele conjunto.

A seleção de charcuterie é uma bela amostra do talento de Alberto. À mousse de foie gras me pareceu faltar sabor. Melhores estavam a rillette de porco e o pé de porco empanado. A textura do peito de pato curado era perfeita. E o sabor da terrine de joelho de porco com ameixa, um absurdo. Tudo isso acompanhado de rémoulade de couve-flor, chutney de cebola roxa e crostinis de pão Poilâne – se é Poilâne mesmo eu não sei, mas me parece improvável...

Meu principal foi um polvo grelhado com batata fondant, tomate confit e pinoli. Cocção certeira. Diálogo sutil com o tomate e os pinoli, embora o polvo pudesse ser mais saboroso...

As sobremesas encarnaram o clímax do almoço. Como penso que deveria acontecer sempre. Afinal, trata-se da última impressão com que se sai de um restaurante. Mas, infelizmente, boas sobremesas são coisa rara. Na média dos restaurantes, impera a negligência com a pâtisserie. Mais um ponto pro Epice.

A tarte tatin (sugerida pra dois, mas, com boa vontade, compartilhável até por três) é uma beleza. Podia ter um tantinho menos de açúcar, mas, ainda assim, uma beleza. Massa algo fofa no interior e bem crocante nas bordas. Maçãs douradas, caramelizadas à perfeição.

Melhor ainda era a “Pera”, quase uma poesia. Mais uma vez, bem-sucedidas variações a partir de mesmos elementos. Contraste de texturas e extrema sutileza em três tempos: delicioso sorbet de pera com chip da fruta desidratada; pera poché com farofa de pain d’épices; crocantes de pain d’épices abraçando uma cremosa mousse de chocolate. Simplesmente sublime.

Detalhe que merece observação: a água, servida durante toda a refeição, assim como nos bons bistrôs franceses, não é cobrada. Outro gol do Epice.

 

Epice – Rua Haddock Lobo 1002 – Jardins
http://www.epicerestaurante.com.br/

As atualizações do blog também estão no meu twitter.

© Pra quem quiser me visitar - Todos os direitos reservados

Envie para um amigo:

*
*

Assinar Newsletter:

Remover email: