Salon du Chocolat Bahia 2012

Julho 2012

No último fim de semana, estive em Salvador para o Salon du Chocolat Bahia. A primeira edição do evento sediada em um país produtor de cacau é um feito de Diego Badaró, da AMMA Chocolate, responsável pela realização do salão no Brasil. Depois de três dias de visita, diria que saí de lá com sentimentos conflitantes...

Minha reação inicial, logo no primeiro dia, foi de surpresa. Me espantei com a diferença da estrutura, se compararmos com o Salão de Paris, que já tive oportunidade de visitar. A diferença é natural – afinal, é nossa estreia no evento –, mas não podia supor que seria tanta... Em seguida, espanto com o fato de avistar, lado a lado, o que há de melhor e de pior na produção de chocolates no Brasil. Se entre os estrangeiros convidados, a produção do evento conseguiu trazer nomes como Bonnat, Pralus, Domori, Jean-Paul Hévin, Oriol Balaguer, Pierre Marcolini e Sadaharu Aoki, no que diz respeito ao mercado brasileiro, a coisa ficou um tanto confusa. Marcas respeitáveis como AMMA Chocolate e Nugali (que têm trabalhado pela construção de um mercado de chocolates de qualidade no país) dividiam espaço com Nestlé/Garoto, Chocolate Itacaré, Magia do Cacau e outras mais. Avaliando sob a perspectiva do público, isso não me pareceu bom. Para as pessoas que têm conhecimento sobre o assunto, como é o caso de diversos confeiteiros e chocolateiros com quem tive a chance de conversar pelos corredores, de modo geral, instalou-se certa decepção. Se pensarmos no público leigo, caso da grande maioria das milhares de pessoas que circularam ali, a coisa talvez seja ainda mais preocupante. Porque joio e trigo eram oferecidos num mesmo balaio.

O fato é que, ao longo do fim de semana, esse sentimento primeiro foi se relativizando. Inclusive pelo fato de entender que não se concretiza um projeto só com sonhos e ideais; é preciso ter dinheiro no bolso e pés no chão. Talvez não seja mesmo possível realizar a primeira (e, possivelmente, nem a segunda) edição de um evento como esse no Brasil sem fazer concessões. Mas, por mais que a iniciativa mereça ser aplaudida, continuo achando que seria importante uma curadoria mais criteriosa e quero crer que haverá oportunidade para ajustes nas edições futuras. Sim, já temos garantidas mais algumas edições do Salon du Chocolat no país, graças ao sucesso de público, que ultrapassou em muito os números esperados.

Não posso deixar de dizer que a decepção do primeiro momento também foi em parte desfeita pelas tantas palestras que aconteceram ao longo dos três dias, onde houve oportunidade de aprender muito. E também pela visibilidade que o evento deu a alguns de nossos melhores produtores de cacau, como Pedro Caetano, da Lajedo do Ouro, e João Tavares, da Fazenda Leolinda – sobre a qual já tinha falado aqui. Tive a chance de conversar com ambos, trocar ideias e acho mesmo que esse é um dos méritos de um evento como esse. Que nas próximas edições essa visibilidade seja ainda maior.

E, antes de vir embora, numa dessas conversas de corredor, ainda me chegou às mãos, através do produtor João Tavares, uma cópia do documentário “O Nó – ato humano deliberado”, de Dilson Araújo, que teria exibição no Salão naquela última tarde. O filme joga luz no episódio da introdução da vassoura-de-bruxa nas plantações de cacau do sul da Bahia. Com base em depoimentos e provas documentais, sugere indícios de ação criminosa por trás do acontecido, revela falhas na atuação da CEPLAC (Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira, órgão do Ministério da Agricultura), aborda a omissão do Estado e dimensiona os danos econômicos e sociais na região. O filme foi exibido no Festival de Cinema de Ilhéus e, por enquanto, não há previsão de exibições em circuito oficial no país. Pra quem tiver interesse, eis o teaser do documentário:

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