Não são poucas as virtudes que eu poderia apontar no menu de outono do Bazzar, que experimentei no final da semana passada, num derradeiro suspiro desta que é minha estação interior de janeiro a dezembro.
Da concepção dos pratos ao frescor dos ingredientes, o menu revela o empenho de Cristiana Beltrão e sua equipe em alinhar a cozinha do restaurante aos desígnios da natureza. Além de bem arquitetado, é oferecido por preço consideravelmente mais baixo que o praticado nas imediações (cinco cursos por R$ 107,00).
A questão é que entre proposta e resultado há um longo caminho a percorrer e, ao menos na minha experiência, a execução dos pratos não esteve à altura das boas ideias sugeridas no cardápio. Foi um jantar marcado por alguns deslizes, que, admito, talvez tenham mesmo comprometido uma avaliação mais acurada.
O caldo de bulbos com vôngoles era delicadíssimo. Eu provavelmente beberia até a última gota se cada colherada não trouxesse pedaços quebrados das conchas, acumulados no fundo do prato. Desisti antes do fim.
O mesmo aconteceu com o prato que trazia ovo de pata e pequenos pedaços de peito de pato defumado sobre purê de cará. O purê chegou fumegante. Esperei cinco minutos, tentei novamente. Ainda assim, queimei a língua. Paladar e prazer comprometidos, nova desistência.
O bolinho de milho verde com gengibre era saboroso, mas um tanto pesado. O catupiry de cabra que o coroava, muito salgado.
A sobremesa, doce de batata doce com iogurte de ovelha, tinha leveza, mas o casamento de sabores e texturas não me pareceu bem-sucedido.
O brilho ficou por conta do prato que marcou o meio do percurso: deliciosos cogumelos (de Lumiar, na serra fluminense) salteados com nacos de aipim e inhame cozidos. O cheiro, o gosto, o calor da terra. Fossem os cinco cursos repetições daquele prato, eu não me queixaria.
Bazzar – Rua Barão da Torre, 538 – Ipanema.